23 de ago. de 2010




Lançamento Polichinello nº 12 / por acaso
Dia 03 de setembro, às 18h30
Museu da Cultura / PUC-SP
Rua Monte Alegre, 984


POR ACASO
Nilson Oliveira

Deixem vir a mim o acaso,
ele é inocente como uma criança.




Na literatura, a imagem do pensamento é imprecisa. Não é histórica, tampouco familiar. Não tem o rosto de personagem algum, contudo sempre devém, pois é imanente ao jogo da criação, à inocência de jogar. Jogar o jogo da literatura implica em afirmar o acaso, pois escrever é estar em relação com as forças do aleatório e a um só tempo com as forças que sopram fora da escrita. Escrever não significa se enredar numa linha na qual o ponto final é a obra. Na literatura não há garantias de nada, tampouco ponto de chegada. Escrever é jogar no aberto e a literatura está em intima relação com o aberto. Nele “Já não há nenhum Virgílio a me guiar no inferno nem nenhuma Beatriz, movida por amor, a me salvar no paraíso”. Escrever é se enredar por esses abismos: sempre existe o meio, o branco, os vácuos e as retrações. O acaso, através dos vários agenciamentos aleatórios provenientes das forças afirmativas, improviso/jogo/derivações, subverte esses vácuos engendrando entre o branco do papel e o desejo (sempre impessoal) uma abertura pela qual a escrita sempre vem. A ação vem sob a influência do indefinível. Desse modo, o desejo não abole o acaso. O acaso desmonta o estável, a paisagem do mesmo, assegurando a escrita por vir. O acaso afirma o jogo da escrita, da mesma forma que o lance de dados assegura o devir literário. É esse movimento em contínuo recomeço que cria novas possibilidades para a literatura; acontecimentos diversos que decantam a obra com vibração. Jogo sempre em aberto, jogo ideal, no qual não há regras preexistentes. O jogador ideal é um estilista, chama-se Roberto Arlt / César Vallejo / J.C. Onetti, que fizeram do jogo literário um procedimento de variação contínua ...
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[do Editorial]



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